Páginas

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Sendo Unidos, Como Filhos de Deus

Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Gál. 3:26.

Raramente encontramos duas pessoas exatamente iguais. Entre os seres humanos, da mesma maneira que entre as coisas do mundo natural, há diversidade. A unidade na diversidade entre os filhos de Deus - a manifestação de amor e longanimidade a despeito da diferença de disposição - eis o testemunho de que Deus enviou Seu Filho ao mundo para salvar os pecadores. Manuscrito 99, 1902.

A unidade que existe entre Cristo e Seus discípulos não destrói a personalidade nem de um nem de outro. No espírito, no desígnio, no caráter, eles são um, porém não em pessoa. Participando do Espírito de Deus, conformando-se com a lei do Senhor, o homem se torna participante da natureza divina. Cristo leva Seus discípulos a viva união com Ele e com o Pai. Pela atuação do Espírito Santo na mente humana, o homem se torna perfeito em Cristo. A unidade com Cristo estabelece um vínculo de unidade uns com os outros. Essa unidade é a mais convincente prova para o mundo quanto à majestade e a virtude de Cristo, e ao Seu poder de tirar o pecado. Manuscrito 111, 1903.

Os poderes das trevas bem pouco êxito podem ter contra os crentes que se amam uns aos outros como Cristo os amou, que se recusam a suscitar contenda e alienação, que se acham unidos, são bondosos, corteses e brandos de coração, nutrindo a fé que atua pelo amor e purifica a alma. Precisamos ter o Espírito de Cristo, ou não Lhe pertencemos. Manuscrito 103, 1902.

Há unidade na força; na divisão há fraqueza. Carta 31, 1892.

Quanto mais íntima nossa união com Cristo, tanto mais íntima nossa união uns com os outros. A discórdia e o desafeto, o egoísmo e a presunção, lutam pela supremacia. Estes são os frutos de um coração dividido, aberto às sugestões do inimigo das almas. Satanás exulta quando lhe é possível semear dissensões. Manuscrito 146, 1902.

Há vida na união, um poder que se não pode obter por nenhum outro modo. Manuscrito 96, 1902.

Relação de Interdependência

De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele. I Cor. 12:26.

No plano de Deus, os seres humanos foram feitos de tal modo que um necessita do outro. A cada um Deus confiou talentos, para serem usados em ajudar outros a andarem no caminho da justiça. É pelo desinteressado serviço em favor de outros que nós nos aperfeiçoamos e aumentamos nossos talentos.

Como as diferentes partes de uma máquina, todos somos intimamente relacionados uns com os outros, e todos são dependentes de um grande Centro. Deve haver unidade na diversidade. Nenhum sócio da firma do Senhor pode trabalhar com êxito, se agir independentemente. Cada um deve trabalhar sob a supervisão de Deus; todos devem usar em Seu serviço as aptidões que lhes foram confiadas, para que cada um possa ajudar no aperfeiçoamento do todo.

Quem alega ser cristão deve examinar-se e ver se é tão bondoso e considerado para com os semelhantes, como deseja que estes sejam para com ele. ... Cristo ensinou que posição ou riqueza não devem fazer nenhuma diferença em nosso trato mútuo, e que à luz do Céu todos somos irmãos. Posses terrestres ou honras mundanas não contam, na avaliação do homem por Deus. Criou Ele todos os homens iguais; Ele não faz acepção de pessoas. Avalia o homem segundo a virtude de seu caráter.

Possuir a verdadeira piedade quer dizer amarmos uns aos outros, ajudarmo-nos mutuamente, tornar aparente em nossa vida a religião de Jesus. Devemos ser consagrados condutos pelos quais o amor de Cristo flua aos que carecem de auxílio. ... Aquele que mais se aproxima da obediência à lei divina, será de maior préstimo a Deus. Aquele que segue a Cristo, estendendo a mão para alcançar Sua bondade, Sua compaixão, Seu amor à família humana, esse será aceito por Deus como cooperador Seu. Esse não se satisfará com permanecer num baixo nível de espiritualidade. Constantemente alcançará maiores alturas. ...

Quando os filhos de Deus se possuírem de mansidão e ternura uns pelos outros, compreenderão que Seu estandarte sobre eles é o amor, e Seu fruto lhes será doce ao paladar. Começar-lhes-á o Céu, na Terra. Farão para si um Céu cá em baixo, para nele se prepararem para o Céu acima. Review and Herald, 13 de maio de 1909.

Cria Unidade na Diversidade

Rogo-vos... que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz. Efés. 4:1-3.

Paulo insta com os efésios para que preservem a unidade e amor. ... Divisões na igreja desonram a religião de Cristo ante o mundo, e dão ocasião aos inimigos da verdade para justificar o seu procedimento. Testemunhos Seletos, vol. 2, pág. 80.

A união dos crentes com Cristo terá como resultado natural a união de uns com os outros, união cujo vínculo é o mais duradouro sobre a Terra. Somos um em Cristo, como Cristo é Um com o Pai. Os cristãos são ramos, apenas ramos, na Videira viva. ... Nossa vida tem de vir da videira-mãe. É somente mediante união pessoal com Cristo, por comunhão com Ele diariamente, a toda hora, que podemos produzir os frutos do Espírito Santo. ... Nosso crescimento na graça, nossa felicidade, nossa utilidade, tudo depende de nossa união com Cristo e o grau de fé que nEle exercemos. Conselhos Sobre Educação, págs. 77 e 78.

Habitando a palavra e o espírito da verdade em nosso coração, separar-nos-ão do mundo. Os imutáveis princípios da verdade e do amor ligarão coração a coração, e a força da união será proporcional à medida de graça e verdade fruídas. Testemunhos Seletos, vol. 2, pág. 209.

A vinha tem muitos ramos, mas embora todos os ramos sejam diferentes, não conflitam entre si. Na diversidade há unidade. Todos os ramos obtém o seu nutrimento de uma só fonte. Isto é uma ilustração da união que deve existir entre os seguidores de Cristo. Em suas diferentes linhas de trabalho, todos têm apenas uma cabeça. O mesmo Espírito, em diferentes maneiras, atua por meio deles. Existe ação harmônica, embora os dons difiram. ... Deus chama a cada um... para o seu apontado trabalho segundo a habilidade que lhe foi dada. SDA Bible Commentary, vol. 6, pág. 1.090.

Temos que manter um caráter, mas esse é o caráter de Cristo. Se tivermos o caráter de Cristo, poderemos trabalhar juntos na obra de Deus. O Cristo que em nós está encontrará ao Cristo que está em nossos irmãos, e o Espírito Santo consagrará essa união de sentimentos e de procedimento que testifica perante o mundo que somos filhos de Deus. Testemunhos Seletos, vol. 3, pág. 385.

Unidade na Diversidade

E nomeou doze para que estivessem com Ele e os mandasse a pregar. Mar. 3:14.

Nestes primeiros discípulos notava-se uma assinalada diversidade. Deviam ser os ensinadores do mundo, e representavam amplamente vários tipos de caráter. Havia Levi Mateus, o publicano, chamado de uma vida de atividade em negócios e submissão a Roma; Simão, o zelador, o intransigente adversário da autoridade imperial; o impetuoso, presunçoso e ardoroso Pedro, com André, seu irmão; Judas, o judeu, polido, capaz e de impulsos medíocres; Filipe e Tomé, fiéis e fervorosos, conquanto tardios de coração para crer; Tiago, jovem, e Judas, de menos preeminência entre os irmãos, mas homens de energia, positivos tanto em suas faltas como em suas virtudes; Natanael, filho da sinceridade e da confiança; e os ambiciosos e amoráveis filhos de Zebedeu. ...

Dos doze discípulos, quatro deviam desempenhar papel saliente, cada um em um ramo distinto. Na preparação para tal, Cristo os ensinou, prevendo tudo. Tiago, destinado a próxima morte à espada; João, o que dentre os irmãos por mais tempo devia seguir seu Mestre nos trabalhos e perseguições; Pedro, o pioneiro em transpor as barreiras dos séculos e ensinar ao mundo gentio; e Judas, capaz de ascendência sobre seus irmãos, no serviço, e não obstante alimentando em seu coração propósitos cujos frutos ele mal sonhava. ...

A fim de levarem avante, com êxito, a obra a que foram chamados, estes discípulos, diferindo tão grandemente em suas características naturais, em preparo e hábitos de vida, necessitavam chegar à unidade de sentimento, pensamento e ação. Era o objetivo de Cristo conseguir esta unidade. ... A grave preocupação em Seu trabalho por eles exprime-se em Sua oração ao Pai - "para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu, em Ti; que também eles sejam um em Nós. ... Para que o mundo conheça que Tu Me enviaste a Mim e que tens amado a eles como Me tens amado a Mim". João 17:21 e 23. Educação, págs. 85 e 86.

Não havia, nos apóstolos de nosso Senhor, coisa alguma que lhes trouxesse glória. Era evidente que o êxito de seus esforços se devia unicamente a Deus. A vida desses homens, o caráter que desenvolveram, e a poderosa obra por Deus operada por intermédio deles, são testemunhos do que fará por todos quantos forem dóceis e obedientes. O Desejado de Todas as Nações, pág. 250.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Um Dia de Cada Vez

O cumprimento fiel dos deveres de hoje é a melhor preparação para as provas de amanhã. Não penseis em todas as dificuldades e cuidados de amanhã, ajuntando-os ao fardo de hoje. "Basta a cada dia o seu mal." Mat. 6:34. A Ciência do Bom Viver, pág. 481.

Um dia sozinho nos pertence e durante o mesmo cumpre-nos viver para Deus. Por esse dia devemos colocar na mão de Cristo, em solene serviço, todos os nossos desígnios e planos, depondo sobre Ele toda a nossa solicitude, pois tem cuidado de nós. "Eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que esperais." Jer. 29:11. "Em vos converterdes e em repousardes, estaria a vossa salvação; no sossego e na confiança, estaria a vossa força." Isa. 30:15. O Maior Discurso de Cristo, pág. 101.

Não nos tornemos infelizes por causa dos fardos de amanhã. Corajosa e animosamente suportemos os fardos de hoje. Precisamos de confiança e fé hoje, sim. Não se nos pede, porém, que vivamos mais do que um dia por vez. Aquele que concede forças para hoje, dará forças para amanhã. Nos Lugares Celestiais (Meditações Matinais, 1968), pág. 269.

Nosso Pai celestial mede e pesa cada prova antes de permitir que ela sobrevenha ao crente. Ele considera as circunstâncias e força daquele que vai ficar sob a prova e o teste de Deus, e jamais permite que as tentações sejam mais fortes do que a capacidade de resistência. Se a alma é sobrecarregada, a pessoa subjugada, isso nunca pode ser atribuído a Deus, como tendo deixado de dar forças em graça, mas o tentado não esteve vigiando e orando e, pela fé, não se apropriou das provisões que Deus tinha em abundante reserva para ele. Cristo nunca falhou a um crente em sua hora de combate. O crente tem de clamar a promessa e enfrentar o inimigo em nome do Senhor, e ele desconhecerá qualquer coisa semelhante a fracasso. Manuscrito 6, 1889.

O Tempo de Angústia - Provisões

Não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal.  Mat. 6:34.

O Senhor me mostrou em visão, reiteradas vezes, que é contrário à Bíblia fazer qualquer provisão para nossas necessidades temporais no tempo de angústia. Vi que se os santos tivessem alimento acumulado por eles, ou nos campos, no tempo de angústia, quando a espada, a fome e pestilência estão na Terra, seria tomado deles por mãos violentas, e estranhos ceifariam os seus campos. Será para nós, então, tempo de confiar inteiramente em Deus, e Ele nos sustentará. Vi que nosso pão e nossa água serão certos nesse tempo, e que não teremos falta nem padeceremos fome. O Senhor me mostrou que alguns de Seus filhos ficariam com medo ao ver elevar-se o preço dos alimentos, e comprariam alimento a fim de guardá-lo para o tempo de angústia. Então, num tempo de necessidade, eu os vi dirigir-se a seu alimento e olhar para ele, e eis que criara vermes e estava cheio de criaturas vivas, sendo impróprio para o uso. To Those Who Are Receiving the Seal of the Living God, 13 de janeiro de 1849.

Casas e terras serão de nenhuma utilidade para os santos no tempo de angústia, pois terão de fugir diante de turbas enfurecidas, e nesse tempo suas posses não podem ser liberadas para o progresso da causa da verdade presente...

Vi que se alguém se apegar a sua propriedade e não inquirir do Senhor quanto ao seu dever, Ele não fará conhecido esse dever, sendo-lhes permitido conservar sua propriedade, e no tempo da angústia isso virá sobre eles como uma montanha para esmagá-los, e eles procurarão dispor dela, mas não será possível. ... Se desejassem ser ensinados, Ele os ensinaria, em tempo de necessidade, quando vender e quanto vender. Primeiros Escritos, págs. 56 e 57.

Na última grande batalha do conflito com Satanás, os que são leais a Deus hão de ser privados de todo apoio terreno. Por se recusarem a violar-Lhe a lei em obediência a poderes terrestres, ser-lhes-á proibido comprar ou vender. Será afinal decretada a morte deles. [Apoc. 13:11-17.] Ao obediente, porém, é dada a promessa: "Este habitará nas alturas; as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu pão lhe será dado, as suas águas são certas." Isa. 33:16. Por essa promessa viverão os filhos de Deus. O Desejado de Todas as Nações, págs. 121 e 122.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O Dilúvio na Versão de: Alexander Maclaren

Texto de  Alexander Maclaren 

Durante cento e vinte anos, os zombadores riram, as pessoas de “bom senso” imaginaram o que estaria acontecendo e o santo paciente prosseguiu, martelando e cobrindo de piche sua arca. Porém, numa certa manhã, a chuva começou e, aos poucos, de algum modo Noé não parecia mais tão tolo. A zombaria já não era mais a mesma quando as águas chegaram à altura dos joelhos e o sarcasmo enroscou-se em sua garganta enquanto se afogavam.

As coisas são sempre assim. E serão assim no último grande dia. Quando o futuro transformar-se em presente e o presente se transformar em passado e desaparecer para sempre, ficará evidente que homens que viveram em função do futuro, pela fé em cristo, são sábios, enquanto aqueles que não tiveram nenhum objetivo além das coisas temporais, que desaparecem no horizonte melancólico, despertarão tarde demais para a convicção de que estão fora da arca de segurança, e que seu verdadeiro epitáfio será: “És tolo”.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A Minha Cruz

INTRODUÇÃO
  1. Lucas 9:23
Há muitos textos nas escrituras que infelizmente costumam ser interpretados de forma bastante equivocada. É o caso do texto lido nesta manhã, que por gerações tem sido usado para destacar a necessidade de enfrentarmos com paciência e humildade as situações difíceis da vida, como se elas tornassem genuína a nossa profissão de fé, o nosso discipulado cristão.

A cruz de que fala Jesus, e que precisamos tomar sobre os ombros a fim de segui-Lo, tem sido normalmente identificada com alguma enfermidade, nossa ou de um ente querido, ou então com dificuldades financeiras, desemprego, problemas familiares, como o divórcio, filhos rebeldes, um marido ranzinza, ou uma mulher rabugenta. E há muitos que se consolam a si mesmos com o pensamento de que se essa é sua cruz, então que assim seja! Que seja feita a vontade de Deus!

Conquanto todo cristão às vezes tenha que renunciar a algumas coisas e passar por provações, a cruz de que fala o texto é bem diferente. A experiência a que Jesus Se refere aqui é muito mais dramática e dolorosa, e está relacionada à Sua própria experiência no Calvário, ou seja, a crucificação.

Em outras palavras, o princípio básico do discipulado cristão segundo o texto que lemos não tem que ver apenas com um sofrimento ou um problema qualquer, por mais grave que seja, mas, sim, com algo ainda mais difícil: a própria morte. Ser um verdadeiro cristão e ter fé genuína é muito mais que um sentimento, uma teoria, ou uma experiência puramente romântica. A verdadeira fé tem que ver com a morte, a morte do eu e a completa renúncia de si mesmo.

2.      Contexto: Para uma melhor compreensão desta passagem, vamos tentar recompor o contexto no qual Jesus pronunciou estas palavras.

Jesus e os discípulos haviam então chegado a uma das cidades nas cercanias de Cesaréia de Felipe. Este era um lugar onde predominava a idolatria, e onde pouco ou quase nada se sabia de Cristo. E Cristo se dirigiu a este lugar justamente para ter um pouco mais de privacidade com os discípulos. A Sra. White nos diz que: “Ali os apóstolos foram afastados da dominante influência do judaísmo, sendo postos em mais íntimo contato com o culto pagão. Ao redor deles se achavam representadas formas de superstição que existiam em todo o mundo. Jesus desejava que a visão destas coisas os levasse a sentir a responsabilidade para com os pagãos” (DTN, 397).

“A maior parte dos discípulos já estava com Jesus havia cerca de três anos. Apesar disso, eles nada sabiam de Sua morte. Tivesse Jesus feito essa revelação logo no início, ao serem chamados, por exemplo, e poucos, se é que alguém teria se arriscado a seguí-Lo. Somente se já O tivessem aceitado como o Messias prometido é que poderiam entender acerca de Seu sofrimento e morte” (Só Jesus, 38).

Possivelmente esta viagem aconteceu na metade do ano 30 d.C.,  no momento em que Jesus se retirou do ministério público e se dedicou a instruir seus discípulos (SDABC, 418). E diante da pergunta de Cristo (Lc 9:20), Pedro tomou a frente e respondeu: “És o Cristo de Deus”. É provável que essa idéia representasse a de todo o grupo. O Mestre agora passa a ensinar sobre sua paixão, dizendo que o Filho do Homem deveria sofrer muitas coisas, que Ele seria rejeitado e finalmente morto. A frustração é latente, a fisionomia muda e um sentimento de derrota assola o grupo.

Olhem comigo o passado vejam o que diz Ellen White: “Cristo e os doze estão caminhando ao longo da costa do mar da Galiléia, em direção a cidade que esmagará todas as suas esperanças. Não ousam nenhum diálogo com Jesus, mas falavam entre si com voz baixa e triste, a respeito do que seria o futuro” (DTN, 405).

ARGUMENTAÇÃO

  1. O ANÚNCIO DA CRUZ (Lc 9:22 e 23)
Foi somente depois da confissão de fé de Pedro e dos demais discípulos que Cristo começou a falar: É necessário que o Filho do Homem sofra muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas; seja morto e, no terceiro dia, ressuscite”. E ao ouvir acerca de Sua morte eles ficaram “mudos de angustia e espanto” declara a Sra. White (DTN, 415).

Digerir esta idéia não foi algo fácil, para os discípulos o Messias viria para reinar, e não para sofrer. Eles ficaram confusos, preocupados, e é provável que no mesmo instante um sentimento de profundo temor tenha invadido o coração de cada um deles. Será que não haviam cometido um erro? Os apóstolos deixaram tudo para seguir a Jesus, e agora estavam diante da possibilidade de que tudo aquilo pudesse não dar em nada. Todos os seus sonhos com relação ao reino messiânico ruíram.

Mas Cristo não parou por aí. Além de fazer que os discípulos procurassem entender que a Sua missão era de natureza espiritual, e implicava Sua morte e ressurreição, Ele também disse que se eles realmente desejassem seguí-Lo, também  precisariam passar pela mesma experiência. “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me”. Queridos imaginem a confusão na cabeça desses homens. Eles não apenas esperavam que Jesus em breve Se tornaria Rei, como também almejavam participar da honras desse reinado. Os irmãos sabem, eles viviam discutindo que entre eles quem seria o maior. Agora, porém Cristo fala em abnegação e morte, e o pior tipo de morte: a morte de cruz.

O fato de Jesus ter que morrer, portanto, por si só já os assustou, mas agora essa de que eles também deveriam tomar uma cruz sobre os ombros e acompanhar o Mestre em Seu sofrimento e morte... essa idéia lhes pareceu particularmente pavorosa. E não havia nenhum mal entendido. As palavras de Cristo foram bem claras. Tomar a cruz e seguir a Jesus não podia significar outra coisa para os discípulos, senão se colocar na posição de um condenado a caminho de sua execução. Não há dúvida. Jesus não estava falando de outra coisa a não ser de morte.

  1. A FÉ NA CRUZ
Esse momento com os discípulos significou os momentos mais importantes para o cristianismo, Cristo enunciou o princípio básico do discipulado cristão, digo melhor, o verdadeiro sentido da fé: a morte do eu, e seu total aniquilamento.

Os discípulos pensavam haver atingido o ponto mais alto de sua religião ao confessar sua fé em Jesus como Filho de Deus. Mas isso, porém era só o começo. Da mesma forma hoje, há muitos que aceitaram a Jesus como seu salvador. São crentes sinceros, mas a fé ainda é pequena e frágil, porque lhes falta entender a gravidade do seu pecado. Há outros que aceitam e entendem, mas ainda não passaram pela experiência da cruz, pela experiência da morte. Limitam-se a um conhecimento teórico. Confundem fé com mero assentimento intelectual, e com isso se enganam achando que o conhecimento que possuem é tudo o que precisam na vida cristã.

LeRoy Edwin Froom em seu livro “A vinda do Consolador (p. 172)” nos adverte: “Eu não posso continuar sendo algo, se Deus não for tudo. O eu não pode jamais expulsar o eu. Em cada coração há uma cruz e um trono. Se Jesus está no trono, o eu está na cruz”. Acontece que muitos de nós temos a Jesus somente como Salvador, e negligenciamos a Cristo como Senhor. Olhe agora para o seu coração quem está na cruz? Quem ocupa o trono da sua vida? Queridos, Jesus quer nos salvar dos pecados e não nos pecados. Alguns se esquecem que o mesmo Deus que perdoa, é também o Deus que transforma.

É possível que nesta manhã aqui nesta igreja tenha pessoas que ainda não passaram pela cruz. Pessoas que aceitaram a cristo somente como Salvador e não como Senhor. Eu quero dizer que a morte de Cristo não garante automaticamente o perdão a nenhum de nós. A menos que a aceitemos pela fé, ela não nos será de nenhum proveito. A fé que nos dá a vida é a fé que passa pela morte, morte com um símbolo de uma profunda e definitiva negação de nós mesmos.

Negar a si mesmo, portanto, significa negar ou deserdar o nosso ego imperioso e pecaminoso, renunciando a nosso suposto direito de seguir o nosso próprio caminho. Não há como entregar apenas metade do coração a Jesus. Ou Cristo ou o próprio eu ocupa o trono do nosso coração, mas Cristo só poderá ocupá-lo se o eu estiver cravado na cruz. “Quase cristãos mas não plenamente, parecem estar perto do reino do Céu, mas não podem ali entrar. Quase, mas não completamente salvos, significa estar não quase, porém completamente perdidos” (PJ, 118).

É por isso que Paulo declara: “E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos” (NVI-Gl 5:24).

  1. A MINHA CRUZ
A metáfora da crucificação usada por Jesus e Paulo para ilustrar a renúncia do eu é bastante adequada porque em primeiro lugar, assim como ninguém consegue crucificar a si mesmo, assim também a morte do eu não é uma conquista pessoal. Ninguém consegue, por si mesmo, se livrar de sua velha natureza e mudar a egocêntrica maneira de viver para uma vida totalmente centralizada em Cristo. Isso é obra do próprio Cristo em nós mediante o poder do Espírito Santo.

“Sozinhos, o máximo que poderíamos fazer numa cruz seria pregar os nossos pés, mas não as nossas próprias mãos. Assim também acontece na vida espiritual. Confiados em nossa própria força, até poderemos superar algumas de nossas paixões e corrigir alguns dos excessos de nossa natureza. Não poderemos, todavia, submetê-la por completo, visto não termos em nós mesmos nem poder e nem disposição suficiente para fazê-lo” (EGW, Educação, 28).

A segunda razão é porque raramente alguém morre no mesmo dia em que é crucificado. A morte por crucificação pode demorar às vezes até oito dias para ocorrer. É por isso que os romanos costumavam deixar soldados no local da execução: para que ninguém viesse durante a noite ou no dia seguinte e resgatasse o condenado ainda vivo na cruz.

O mesmo acontece na vida espiritual. A morte do eu não é instantânea, não ocorre no momento exato em que o pregamos na cruz, razão pela qual deve haver constante vigilância de nossa parte, para que satanás não resgate esse eu ainda vivo da cruz e o faça mais presente e mais forte do que nunca em nossa vida, levando-nos assim a ruína espiritual.

Se falharmos na vigilância da cruz, o inimigo vem e, sem que ninguém perceba, ele tira da cruz o velho homem ainda vivo, e o fortalece, e faz com que ele volte a dominar os pensamentos e ações, destruindo a fé e nos afastando definitivamente de Deus. Portanto, ao contrário do que alguns pensam, salvação não é algo que ocorre uma vez para sempre.

CONCLUSÃO

1.      Embora a salvação seja um dom de Deus (Ef 2:8), ela o é somente para aqueles que morrem para si mesmos, e que se entregam sem reservas a Cristo, e que estejam dispostos a viver por Ele.

2.      Só seremos realmente salvos se nossa fé nos levar a seguir os passos de nosso Senhor rumo ao calvário, e ali dividir com Ele o lugar da cruz, num símbolo de completa renúncia do eu. “A luta contra o próprio eu é a maior batalha que já foi ferida” (EGW, CC, 43).

3.      Tão importante quanto ser crucificado é permanecer crucificado, do contrário o velho eu poderá reviver e reassumir o controle sobre nós. Não pode haver descanso, não pode haver trégua. Somente por meio do correto exercício da vontade, e muita oração, é que poderemos impedir o inimigo de raptar da cruz o nosso eu e se apossar definitivamente dele. “Resisti ao diabo” diz a Bíblia, “e ele fugirá de voz” Tg 4:7.

4.      “Muitos se perderão”, diz a Sra. White, “enquanto esperam e desejam ser cristãos. Não chegam ao ponto de render a vontade a Deus. Não escolhem agora ser cristãos” (EGW, CC, 48). Por mais louco que pareça, em termos espirituais morrer significa viver. Quantos nesta manhã gostariam de repetir junto comigo as palavras do apóstolo Paulo em Gl 2: 20: logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A Salvação, o Camelo e a Agulha

INTRODUÇÃO


Lucas 18:18-30    


ARGUMENTAÇÃO

1.      V.18 - Certo homem de posição perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? 

a.      Bom Mestre (didaskale agathé) – esta saudação não era empregada aos rabinos, porque atribuía ao homem um atributo que somente Deus possuía. Foi com certeza um gesto de lisonja impensada. O príncipe dirigiu-se a Cristo meramente como a um rabino honrado, não reconhecendo nEle o filho de Deus (EGW. PJ. 390). Acompanhe o verso: 19 Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um, que é Deus.

b.      O jovem rico deseja fazer algo para receber a vida eterna. Supunha que a vida eterna devesse ser merecida, e que fosse necessária alguma boa obra que não estava praticando na ocasião. Indubitavelmente desejava alcançar a vida eterna mediante os seus próprios esforços.

2.      20 Sabes os mandamentos: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra a teu pai e a tua mãe.  21 Replicou ele: Tudo isso tenho observado desde a minha juventude. 

a.      O jovem pergunta o que devia fazer, de modo que Jesus respondeu em termos de fazer, dirigindo-se aos Mandamentos. Quando alguém leva a sério as exigências da Lei, está no caminho para chegar a Cristo. “De maneira que a lei nos serviu de aio (paidagogós) para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé.” (Gl 3:24).

b.      Cinco Mandamentos são escolhidos por Jesus e apresentados fora da ordem original:

                                                              i.      Não adulterarás, 7° mandamento – lealdade à família.
                                                            ii.      Não matarás, 6°
                                                          iii.      Não furtarás, 8° mandamento – propriedade.
                                                           iv.       Não dirás falso testemunho, 9°
                                                             v.      Honra a teu pai e a tua mãe. 5° - lealdade à família.

c.  Somos quase obrigados a presumir que esta nova ordem é intencional, e serve a algum propósito. Qual é o objetivo? Por que essa inversão? Por que a omissão do Décimo Mandamento?

d.      A ênfase é sem dúvida a família e as propriedades. A lealdade da família abre e fecha a lista. Entenda por que: estes dois valores, FAMILÍA e PRORIEDADE, são as mais elevadas exigências de lealdade de qualquer pessoa no Oriente Médio.

3.      21 Replicou ele: Tudo isso tenho observado desde a minha juventude.

a.      Ele não entendeu ... Tinha algo a mais que ultrapassava a barreira do simples cumprir regras. O jovem não reconhecia sua posição e condição diante desses Mandamentos citados por Jesus. Por isso responde que cumpria tudo desde menino. Esta foi uma resposta superficial, e não infundada, pois havia uma tradição rabínica de que era possível guardar todas as ordenanças da Torá.

4.      22 Ouvindo-o Jesus, disse-lhe: Uma coisa ainda te falta: vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-me.  23 Mas, ouvindo ele estas palavras, ficou muito triste, porque era riquíssimo.

a.      A ordem: vende tudo e segue-me, tocam no âmago dos mesmos valores sugeridos pela reordenação dos Mandamentos, FAMÍLA E PROPRIEDADE.

b.      Em outras palavras Jesus propõe: lealdade a Ele em oposição à lealdade da sua família e das suas propriedades.

c.       O caso de Abraão: (1) deixar a casa, Ur. (2) matar Isaque.

5.      24 E Jesus, vendo-o assim triste, disse: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!  25 Porque é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. 

a.      Duas tentativas surgiram para minimizar a afirmação do verso 25.

                                                              i.      A primeira é linguística, envolve a mudança de uma vogal grega. Em vez de Kamelon (camelo) seria Kamilon (corda, cordão).

                                                            ii.      A segunda é uma cena comum nas comunidades do oriente. As portas das aldeias eram suficientemente grandes tendo aproximadamente 3,5mX4m, feitas de madeira maciça. Portanto, muita mão de obra para abri-las; por isso, elas eram abertas apenas quando camelos carregados passavam. O movimento comum das pessoas de entrar e sair era facilitado por uma portinhola recortada na porta grande. No passado alguns comentaristas bíblicos diziam que essas portinholas eram o fundo da agulha. Contudo não há nenhuma evidência de que estas portinholas recebiam o nome de “fundo”, “buraco” ou “olho da agulha”.

b.      O que temos é o uso de uma figura de linguagem, hipérbole, destacando um exagero, algo impossível.

c.       Entrar no Reino mediante confiança nas propriedades e na riqueza é difícil; de fato é impossível. Normalmente a pessoa que tem muitas riquezas tem a tendência de querer adquirir com meios próprios a sua entrada no Céu. O que é estranho.

6.      26 E os que ouviram disseram: Sendo assim, quem pode ser salvo?  27 Mas ele respondeu: Os impossíveis dos homens são possíveis para Deus. 

a.      Os judeus acreditavam que as riquezas eram um sinal das bênçãos de Deus. De acordo com seu raciocínio, se os ricos não podiam ser salvos, que esperança haveria pra eles?

b.      A salvação, para os ricos ou para os pobres, sempre é um milagre da graça divina. Sempre é dádiva de Deus.

c.       Não é o fato de possuir riquezas que impede as pessoas de entrarem no céu, Abraão, Jó, Salomão foram homens extremamente ricos. Antes, é o fato de ser possuído pelas riquezas e de confiar nelas que dificulta a salvação dos mais abastados.

7.      28 E disse Pedro: Eis que nós deixamos nossa casa e te seguimos.  29 Respondeu-lhes Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou mulher, ou irmãos, ou pais, ou filhos, por causa do reino de Deus, 30 que não receba, no presente, muitas vezes mais e, no mundo por vir, a vida eterna.

a.       A palavra traduzida como casa, está incorreta, não seria esta a melhor tradução para o vocábulo Hidia, o termo que dizer literalmente: “deixamos o que é nosso”. Esta expressão foi cunhada em algumas versões árabes, e dá a entender pessoas tanto quanto propriedades.

b.      Lucas 14:33 diz: “Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo”.

CONCLUSÃO

1.      É possível que o jovem rico seja o único homem dos evangelhos a colocar-se aos pés de Jesus e, depois, partir numa situação pior do que quando havia chegado.

2.      O jovem rico é uma advertência aos que desejam uma fé cristã que não mude seus valores nem perturbe seu estilo de vida.

3.      O amante de si mesmo é transgressor da lei. Isto quis Jesus revelar ao jovem, e submeteu-o a uma prova de modo tal, que manifestaria o egoísmo de seu coração. Mostrou-lhe a nódoa do caráter. O jovem não desejou mais esclarecimento. Nutrira na alma um ídolo - o mundo era o seu deus (EGW. PJ. 392).

4.      De fato, homens e mulheres de fé em todas as épocas têm descoberto que as exigências impossíveis de obediência se tornam possíveis através do milagre da graça de Deus. A salvação deve ser uma obra de Deus, e não uma realização de seres humanos.

5.      A vida eterna não é herdada através de boas obras, mas recebida por aqueles que permitem que Deus opere o impossível dentro deles.

6.      A salvação está além do alcance humano; é possível apenas para Deus.