INTRODUÇÃO
Lucas 18:18-30
Lucas 18:18-30
ARGUMENTAÇÃO
1. V.18 - Certo homem de posição perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
a. Bom Mestre (didaskale agathé) – esta saudação não era empregada aos rabinos, porque atribuía ao homem um atributo que somente Deus possuía. Foi com certeza um gesto de lisonja impensada. O príncipe dirigiu-se a Cristo meramente como a um rabino honrado, não reconhecendo nEle o filho de Deus (EGW. PJ. 390). Acompanhe o verso: 19 Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um, que é Deus.
b. O jovem rico deseja fazer algo para receber a vida eterna. Supunha que a vida eterna devesse ser merecida, e que fosse necessária alguma boa obra que não estava praticando na ocasião. Indubitavelmente desejava alcançar a vida eterna mediante os seus próprios esforços.
2. 20 Sabes os mandamentos: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra a teu pai e a tua mãe. 21 Replicou ele: Tudo isso tenho observado desde a minha juventude.
a. O jovem pergunta o que devia fazer, de modo que Jesus respondeu em termos de fazer, dirigindo-se aos Mandamentos. Quando alguém leva a sério as exigências da Lei, está no caminho para chegar a Cristo. “De maneira que a lei nos serviu de aio (paidagogós) para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé.” (Gl 3:24).
b. Cinco Mandamentos são escolhidos por Jesus e apresentados fora da ordem original:
i. Não adulterarás, 7° mandamento – lealdade à família.
ii. Não matarás, 6°
iii. Não furtarás, 8° mandamento – propriedade.
iv. Não dirás falso testemunho, 9°
v. Honra a teu pai e a tua mãe. 5° - lealdade à família.
c. Somos quase obrigados a presumir que esta nova ordem é intencional, e serve a algum propósito. Qual é o objetivo? Por que essa inversão? Por que a omissão do Décimo Mandamento?
d. A ênfase é sem dúvida a família e as propriedades. A lealdade da família abre e fecha a lista. Entenda por que: estes dois valores, FAMILÍA e PRORIEDADE, são as mais elevadas exigências de lealdade de qualquer pessoa no Oriente Médio.
3. 21 Replicou ele: Tudo isso tenho observado desde a minha juventude.
a. Ele não entendeu ... Tinha algo a mais que ultrapassava a barreira do simples cumprir regras. O jovem não reconhecia sua posição e condição diante desses Mandamentos citados por Jesus. Por isso responde que cumpria tudo desde menino. Esta foi uma resposta superficial, e não infundada, pois havia uma tradição rabínica de que era possível guardar todas as ordenanças da Torá.
4. 22 Ouvindo-o Jesus, disse-lhe: Uma coisa ainda te falta: vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-me. 23 Mas, ouvindo ele estas palavras, ficou muito triste, porque era riquíssimo.
a. A ordem: vende tudo e segue-me, tocam no âmago dos mesmos valores sugeridos pela reordenação dos Mandamentos, FAMÍLA E PROPRIEDADE.
b. Em outras palavras Jesus propõe: lealdade a Ele em oposição à lealdade da sua família e das suas propriedades.
c. O caso de Abraão: (1) deixar a casa, Ur. (2) matar Isaque.
5. 24 E Jesus, vendo-o assim triste, disse: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! 25 Porque é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.
a. Duas tentativas surgiram para minimizar a afirmação do verso 25.
i. A primeira é linguística, envolve a mudança de uma vogal grega. Em vez de Kamelon (camelo) seria Kamilon (corda, cordão).
ii. A segunda é uma cena comum nas comunidades do oriente. As portas das aldeias eram suficientemente grandes tendo aproximadamente 3,5mX4m, feitas de madeira maciça. Portanto, muita mão de obra para abri-las; por isso, elas eram abertas apenas quando camelos carregados passavam. O movimento comum das pessoas de entrar e sair era facilitado por uma portinhola recortada na porta grande. No passado alguns comentaristas bíblicos diziam que essas portinholas eram o fundo da agulha. Contudo não há nenhuma evidência de que estas portinholas recebiam o nome de “fundo”, “buraco” ou “olho da agulha”.
b. O que temos é o uso de uma figura de linguagem, hipérbole, destacando um exagero, algo impossível.
c. Entrar no Reino mediante confiança nas propriedades e na riqueza é difícil; de fato é impossível. Normalmente a pessoa que tem muitas riquezas tem a tendência de querer adquirir com meios próprios a sua entrada no Céu. O que é estranho.
6. 26 E os que ouviram disseram: Sendo assim, quem pode ser salvo? 27 Mas ele respondeu: Os impossíveis dos homens são possíveis para Deus.
a. Os judeus acreditavam que as riquezas eram um sinal das bênçãos de Deus. De acordo com seu raciocínio, se os ricos não podiam ser salvos, que esperança haveria pra eles?
b. A salvação, para os ricos ou para os pobres, sempre é um milagre da graça divina. Sempre é dádiva de Deus.
c. Não é o fato de possuir riquezas que impede as pessoas de entrarem no céu, Abraão, Jó, Salomão foram homens extremamente ricos. Antes, é o fato de ser possuído pelas riquezas e de confiar nelas que dificulta a salvação dos mais abastados.
7. 28 E disse Pedro: Eis que nós deixamos nossa casa e te seguimos. 29 Respondeu-lhes Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou mulher, ou irmãos, ou pais, ou filhos, por causa do reino de Deus, 30 que não receba, no presente, muitas vezes mais e, no mundo por vir, a vida eterna.
a. A palavra traduzida como casa, está incorreta, não seria esta a melhor tradução para o vocábulo Hidia, o termo que dizer literalmente: “deixamos o que é nosso”. Esta expressão foi cunhada em algumas versões árabes, e dá a entender pessoas tanto quanto propriedades.
b. Lucas 14:33 diz: “Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo”.
CONCLUSÃO
1. É possível que o jovem rico seja o único homem dos evangelhos a colocar-se aos pés de Jesus e, depois, partir numa situação pior do que quando havia chegado.
2. O jovem rico é uma advertência aos que desejam uma fé cristã que não mude seus valores nem perturbe seu estilo de vida.
3. O amante de si mesmo é transgressor da lei. Isto quis Jesus revelar ao jovem, e submeteu-o a uma prova de modo tal, que manifestaria o egoísmo de seu coração. Mostrou-lhe a nódoa do caráter. O jovem não desejou mais esclarecimento. Nutrira na alma um ídolo - o mundo era o seu deus (EGW. PJ. 392).
4. De fato, homens e mulheres de fé em todas as épocas têm descoberto que as exigências impossíveis de obediência se tornam possíveis através do milagre da graça de Deus. A salvação deve ser uma obra de Deus, e não uma realização de seres humanos.
5. A vida eterna não é herdada através de boas obras, mas recebida por aqueles que permitem que Deus opere o impossível dentro deles.
6. A salvação está além do alcance humano; é possível apenas para Deus.