OS SACERDOTES COMO MINISTROS
Os sacerdotes eram ministros de Deus, divinamente apontados como mediadores entre Deus e os homens, particularmente autorizados a oficiar no altar e nos serviços do santuário. Nos tempos em que os livros não eram comuns, eles eram não só os intérpretes da lei, mas em muitos casos a única fonte de conhecimento dos reclamos divinos. Por seu intermédio era o povo instruído na doutrina do pecado e sua expiação, na justiça e santidade. Por seu ministério o povo era ensinado como se devia aproximar de Deus; como o perdão podia ser alcançado; como a oração se podia tornar agradável a Deus; quão inexorável é a lei; como o amor e a misericórdia prevalecem, por fim. Todo o plano da salvação lhes era esclarecido até ao ponto em que era possível ser revelado em símbolos e ofertas.
Cada cerimônia visava impressionar-lhes o espírito com a santidade de Deus e as fatais conseqüências do pecado. Ensinava-lhes também a admirável provisão feita mediante a morte do cordeiro. Fosse embora um ministério de morte, era glorioso em suas promessas. Contava de um redentor, de alguém que levava o pecado, que compartilhava a carga, um mediador. Era o evangelho em perspectiva.
No serviço do sacerdócio três coisas se destacavam preeminentemente do resto: mediação, reconciliação, santificação. Cada uma delas merece ser destacada.
Os sacerdotes eram, antes de mais nada, os mediadores. Era esta a sua obra principal. Conquanto o pecador pudesse trazer a oferta, não podia espargir o sangue ou queimar a carne sobre o altar. Nem podia comer o pão da proposição, ou oferecer incenso, ou mesmo espevitar as lâmpadas. Tudo isso outro devia fazer por ele. Embora pudesse aproximar-se do templo não podia nele entrar: embora pudesse suprir o sacrifício, não podia oferecê-lo; embora pudesse imolar o cordeiro, não podia oferecer o sangue. Deus era acessível a ele unicamente pela mediação do sacerdócio. Podia aproximar-se de Deus só por intermédio de outra pessoa. Tudo isso devia gravar-lhe na mente o fato de que necessitava alguém para interceder por ele, alguém para interferir. Isso pode ser apresentado mais vividamente ao espírito, imaginando-se uma ocorrência que muito bem pode ser real.
Um pagão que sinceramente deseje adorar ao verdadeiro Deus ouve que o Deus de Israel é o Deus verdadeiro, e que habita no templo de Jerusalém. Faz longa jornada e afinal chega ao sagrado lugar. Ouviu dizer que Deus habita entre os querubins no lugar santíssimo, e resolve penetrar no recinto onde possa adorar a Deus.
Mas não dá muitos passos quando é detido por um aviso que o informa de que nenhum estranho pode transpor aquele limite sem perigo de vida. Fica perplexo. Deseja adorar ao verdadeiro Deus de quem ouviu falar, e também lhe foi dito que Deus quer ser adorado. No entanto, é impedido nisso. Que poderá ser feito? Interroga um dos adoradores e é lhe dito que necessita prover-se de um cordeiro antes de se poder aproximar de Deus. Provê-se imediatamente com o animal requerido e volta. Pode agora ver a Deus? Novamente lhe é dito que não pode entrar.
- Para que, afinal, é o cordeiro? Pergunta.
- Deve entregá-lo ao sacerdote para sacrificá-lo.
- Poderei então entrar?
- Não, pois não existe meio de jamais entrar no templo ou ver a Deus. Não é assim que se procede.
- Mas por que não posso ver vosso Deus? Quero adorá-Lo.
- Nenhum homem poderá ver a Deus e viver. Ele é santo, e somente quem é santo O pode ver. O sacerdote pode entrar no primeiro compartimento, mas existe ainda uma cortina entre ele e Deus. Somente o sumo-sacerdote pode de vez em quando entrar no santíssimo. Não poderá o senhor ir em pessoa. Sua única esperança está em que alguém ali chegue em seu lugar.
O homem fica profundamente impressionado. Não lhe é permitido entrar no templo. Somente quem é santo pode fazê-lo. Precisa de alguém que por ele interceda. A lição fica-lhe gravada profundamente na alma: não pode ver a Deus; precisa de um mediador. Somente assim podem os pecados ser perdoados e a reconciliação efetuada.
Todo o ritual do santuário se baseia na obra de mediação. O pecador podia trazer o cordeiro; podia matá-lo; mas o rito só seria eficaz se houvesse um mediador que aspergisse o sangue e ofertasse o sacrifício.
A segunda característica preeminente do rito era a reconciliação. O pecado afasta de Deus. É ele que encobre o Seu rosto de nós, e impede que nos ouça. Isa. 59:2.
Mas por intermédio das ofertas queimadas e do incenso que ascendia com as orações, era possível a aproximação de Deus. Era restaurada a comunhão e efetuada a reconciliação.
Ao passo que a mediação era o fim precípuo do sacerdócio, a reconciliação era o desígnio dos sacrifícios oferecidos diariamente durante o ano. Por meio deles, eram restabelecidas as cordiais relações entre Deus e o homem. O pecado separava; o sangue unia. Isso era realizado pelo ministério do perdão. Fora afirmado que quando toda a congregação houvesse pecado e trouxesse sua oferta pela culpa; quando os anciãos pusessem as mãos sobre a oferta fazendo sincera confissão do pecado, “lhe será perdoado o pecado”. Lev. 4:20. E a ordem continua afirmando que quando um príncipe houvesse pecado e cumprisse com as exigências, ser-lhe-ia perdoado. Vers. 26. A promessa atingia também qualquer pessoa do povo em geral: “E lhe será perdoado o pecado.” Vers. 31 e 35. Pelo pecado, viera a separação; mas daí por diante tudo estava perdoado.
Somos reconciliados com Deus pela morte de Seu filho. Rom. 5:10. A reconciliação é efetuada pelo sangue. II Crôn. 29:24. Dia após dia o sacerdote entrava no primeiro compartimento do santuário para comungar com Deus. Havia ali o incenso santo que penetrava além do véu até o santíssimo; ali estava o castiçal que era um emblema dAquele que é a luz do mundo; a mesa do Senhor convidando à comunhão; e a aspersão do sangue. Era um lugar de aproximação de Deus, de comunhão. Por intermédio do ministério do sacerdote o perdão era concedido, efetuada a reconciliação, e o homem posto em comunhão com Deus.
O terceiro aspecto importante do ritual do santuário é o da santificação, ou santidade. O pecado que acariciamos no coração revela a distância que nos separa de Deus. O estranho só podia entrar no pátio do templo. A alma penitente devia aproximar-se do altar. O sacerdote podia penetrar no lugar santo. Só o sumo-sacerdote – e isso apenas um dia no ano, e depois de ampla preparação – podia entrar no lugar santíssimo. Vestido de branco podia aproximar-se com tremor do trono divino. E mesmo assim, o incenso devia ocultá-lo parcialmente. Aí podia ministrar não simplesmente como alguém que buscava perdão do pecado, mas lhe era permitido suplicar resolutamente que fossem apagados.
BIBLIOGRAFIA
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WHITE, Ellen G. Patriarcas e Profetas. Traduzido por Flávio Monteiro, São Paulo, Casa Publicadora Brasileira, 2006.