Páginas

domingo, 16 de novembro de 2008

Riquezas e o Fechamento da Porta da Graça

“Assim, pois, qualquer de vós que não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo.” Lc 14:33

Conforme nos aproximamos do tempo do fim, é comum encontrarmos pessoas com dúvidas sobre o que fazer com suas posses. A indagação mais freqüente é, quando será o momento exato de desfazer os bens e aplicar na obra missionária? Para responder esta e outras perguntas pertinentes a este assunto, teremos que fazer uma viagem a dois pontos da história cristã, onde encontramos pessoas rescindindo suas posses e empregando na causa de Deus. Neste passeio na história veremos as riquezas sendo empregadas em duas frentes: primeiro na colaboração com pessoas da irmandade mais necessitadas, e segundo na obra missionária, financiando literatura e folhetos.

Doações da Igreja Primitiva

No livro de Atos encontramos alguns fatos em que os novos convertidos ao evangelho de Cristo repartiam suas riquezas entre si, ajudando assim os mais necessitados. Muitos desses primeiros cristãos pelo zelo fanático dos judeus, foram imediatamente separados da família e dos amigos, sendo portanto necessário prover-lhes abrigo e alimento. Em Atos 4:34 lemos: “Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes.”

Esta arrecadação não era algo aleatório e sem direcionamento, pois a história bíblica aponta os discípulos como organizadores desse projeto, segundo Atos 4:35 “e depositavam aos pés dos apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade.” “Esta liberalidade da parte dos crentes foi o resultado do derramamento do Espírito. ‘Era um o coração e a alma’ (Atos 4:32) dos conversos ao evangelho. Um comum interesse os guiava - o êxito da missão a eles confiada; e a avareza não tinha lugar em sua vida. Seu amor aos irmãos e à causa que haviam abraçado, era maior do que o amor ao dinheiro e às posses. Suas obras testificavam que eles tinham a salvação dos homens em maior apreço que as riquezas terrestres.” (Atos dos Apóstolos, p. 70 e 71).

Exatamente neste contexto que deparamos com Ananias e Safira, eles haviam prometido a Deus a venda de um imóvel. Mas por um momento ouviram as cobiçosas palavras de satanás, e perderam a suave influência do Espírito. Conversaram entre si sobre o caso e resolveram não cumprir a promessa. “Mas, em acordo com sua mulher, reteve parte do preço” (Atos 5:2). Ellen White comenta que “... os que entregavam seus bens para suprir as necessidades de seus irmãos mais pobres, eram tidos em alta estima pelos crentes; e, com vergonha de que os irmãos viessem a saber que sua mesquinhez de alma regateara aquilo que haviam solenemente dedicado a Deus, resolveram deliberadamente vender sua propriedade e fingir que davam todo o produto para o fundo comum, guardando, porém, para si mesmos, grande parte. Deste modo garantiriam para si o pão do depósito comum, ao mesmo tempo que alcançariam a alta estima de seus irmãos” (Atos dos Apóstolos, p. 72).

O episódio ocorrido com esse promissor casal, é um exemplo do que poderá acontecer conosco se, mantivermos em nosso coração um apego excessivo a riqueza. “Não apenas para a igreja primitiva, mas para todas as gerações futuras, este exemplo de como Deus aborrece a cobiça, a fraude, a hipocrisia, foi dado como um sinal de perigo. Foi a cobiça que Ananias e Safira tinham acariciado em primeiro lugar. O desejo de reter para si a parte que haviam prometido ao Senhor, levou-os à fraude e à hipocrisia” (Atos dos Apóstolos, p. 74). A conseqüência foi a morte.

Doações no Movimento Milerita

Foi numa campal em Exeter, New Hampshire, em agosto de 1844, que pela primeira vez foi anunciado o retorno de Jesus para o dia 22 de outubro de 1844. Nesta campal, enquanto o marinheiro José Bates pronunciava um sermão sem muita novidade, chega ao local um cavaleiro chamado Samuel Snow. Sua irmã que estava na platéia vendo que ele chegara, cortesmente interrompe o velho Bates e apresenta seu irmão, e diz: “Irmão Bates! É muito tarde para gastarmos o nosso tempo com essas verdades com as quais estamos familiarizados. O tempo é curto. O Senhor tem servos aqui com alimento para o devido tempo para a Sua casa. Que eles falem, e que o povo possa ouvi-los” (História do Adventismo, p. 29).

Foi então que Snow assumiu o lugar no púlpito e transmitiu à expectante assembléia o resultado de seus estudos, chegando com a data certa para o retorno de Cristo no dia 22 de outubro de 1844 (para um estudo mais completo sobre o estudo de Samuel Snow ver C. Mervyn Maxwell, História do Adventismo, p. 29-34).

Após a datação para o retorno de Jesus, o que vemos é uma comoção geral entre os membros do movimento. Maxwell narra este fato: “Grandes somas eram doadas para que os pobres pudessem liquidar suas dívidas, bem como para a publicação de literatura – até que os editores dissessem que não precisavam mais, o que fez muitos doadores em potencial retirarem-se com pesar” (História do Adventismo, p. 33). Nesta história os crentes atuam de duas formas: empregam suas riquezas na pregação do evangelho eterno, como também socorrem aos mais carentes. O que vemos claramente é a aceitação ao chamado de Cristo: “Qualquer de vós que não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo.”

Porém alguns podem pensar que eles agiram assim pois sabiam o exato momento do eminente retorno de Cristo. Mas o ponto em foco não era o retorno de Cristo, e sim o senso de missão produzido pelo Espírito Santo que permeava o coração e a mente do povo. As doações eram feitas para que as literaturas alcançassem o maior número de pessoas, a abnegação, causa da presença do Espírito Santo, impulsionava os mileritas a dispor de suas propriedades e bens e aplicá-las na pregação do evangelho. Hoje também vivemos na expectativa da segunda vinda, contudo, raramente presenciamos doações expressivas e o motivo é simples: ainda nos falta unção do Espírito.

Doações no Tempo do Fim

Depois desta contextualização onde estudamos dois pontos distintos da história em que o povo de Deus se mobilizou doando suas posses, podemos resumir que a atuação do Espírito de Deus é determinante. Sem Ele esses movimentos não teriam alcançado resultados satisfatórios. Mas ainda fica a pergunta: Quando será o momento exato de desfazer os bens nesta reta final da história do mundo? É conhecido de todos o texto dos evangelhos onde Cristo exorta seus discípulos com o perigo de se apegar as riquezas. Mt 19:23 “Então, disse Jesus a seus discípulos: Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus.”

A Bíblia não condena o rico porque é rico; não declara que a aquisição de riqueza é pecado. Em nenhum momento o Mestre está se opondo aos ricos ou mesmo negando-lhes a salvação. Até porque a riqueza é um dom de Deus. “É Deus quem dá força aos homens para adquirirem riqueza...” (Ellen G White, Minha Consagração Hoje – MM 1989, p.116). É o amor ao dinheiro que a Palavra de Deus denuncia como sendo a raiz de todos os males (1 Tm 6:10). A riqueza só é uma posse perigosa quando posta em competição com os tesouros celestes.

Embora não haja nenhum erro em aumentar nossas posses, e como vimos a riqueza é um talento de Deus, se aproxima o momento em que deveríamos fazer ao contrário. “É agora que nossos irmãos deveriam estar reduzindo suas posses, em vez de aumentá-las. Estamos prestes a mudar-nos para uma terra melhor, a celestial. Não procedamos, pois, como quem queira habitar confortavelmente sobre a Terra, mas ajuntemos nossos objetos no espaço mais limitado possível” (Conselhos Sobre Mordomia, p.59).

Se é agora a hora de reduzir nossas posses, temos que fazê-lo antes que saia o decreto proibindo os homens de comprar ou vender. Sabemos que este decreto é anterior ao tempo de angústia. O Espírito de Deus assim nos admoesta: “Casas e terras não serão de nenhuma utilidade para os santos no tempo de angústia, ..., e naquele tempo não poderão dispor de seus bens para o progresso da causa da verdade presente.” Também diz: “Foi-me mostrado que é a vontade de Deus que os santos se desprendam de todo embaraço, antes que chegue o tempo de angústia.” (Testemunhos Seletos, Vol.2, p.44).

Ao finalizar este devocional devemos ter a chama do Espírito Santo acesa em nosso coração. Foi Ele atuando no coração da igreja primitiva e no movimento milerita que liderou a venda de propriedades como também empregou os recursos nos lugares certos. Esta atuação excepcional do Espírito no passado nos garante novamente a atuação em nossas vidas no presente. Ellen White declara: “Se eles tiverem sua propriedade sobre o altar, e inquirirem fervorosamente de Deus quanto ao dever, Ele lhes ensinará quando devem dispor destas coisas. Então estarão livres no tempo de angústia, e não terão ligaduras que os puxem para baixo” (Testemunhos Seletos, vol.2, p.44).

“Homens e mulheres pobres há que me escrevem pedindo conselho quanto a deverem eles vender sua morada e darem o resultado à causa. A esses, eu diria: Talvez não seja dever vosso venderdes vossa casinha agora; buscai, porém, a Deus, vós mesmos; certamente o Senhor vos ouvirá a sincera oração pedindo sabedoria para compreender vosso dever” (Testemunhos Seletos, vol.2, p. 330). Assim como foi na época da igreja primitiva nosso único e maior anseio deve ser buscar o Senhor e ser ungido pelo seu Espírito, somente com esse poder do alto teremos clareza para tomar decisões corretas e em tempos acertados.

Deus em todo o decurso da história tem usado material humano para infundir sua obra de salvação ao mundo. Ainda hoje temos este privilégio de sermos participantes na conclusão deste ministério, “Deus tem feito depender a proclamação do evangelho do trabalho e dos donativos de Seu povo. As ofertas voluntárias e os dízimos constituem o meio de manutenção da obra do Senhor” (Atos dos Apóstolos, p. 54). Que em nossa busca incessante por Cristo nosso caráter seja transformado e que nossos atos sejam totalmente altruístas como o do nosso Mestre Jesus.

Minha Decisão Hoje

Reconsagrar minha vida, colocando meus talentos, meus tesouros, meu tempo e o meu templo sobre o altar do Senhor. Vivendo em novidade de vida.

Nenhum comentário: